Diagnóstico de Parkinson precoce leva à busca por superação – Diário da Região

Em junho de 2018, no dia do seu aniversário de 36 anos, o rio-pretense André Gubolin recebeu o diagnóstico de Parkinson precoce. “Ali o chão caiu. Acabou tudo”, pensou, ao receber a notícia do neurologista. Quatro anos depois, agora com 40 anos, Gubolin realmente mudou de vida e conseguiu superar a doença, apesar de todas as limitações que ela impõe. Superação é palavra-chave ao se falar sobre Parkinson, doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva, que se apresenta em idosos e também em pessoas com menos de 45 anos, como André Gubolin. O Diário traz duas histórias sobre a doença que convidam à reflexão e também informações sobre diagnóstico e tratamento.

No Brasil existem poucos números sobre a doença. De acordo com o Ministério da Saúde, são pelo menos 250 mil portadores. E isto não leva em conta os portadores jovens, aqueles que desenvolvem em idades bem inferiores à faixa etária típica. Por isso, seja no Brasil ou em qualquer outro país, trata-se da segunda doença neurodegenerativa mais comum.

“O principal fator de risco é o envelhecimento. Acomete 3% das pessoas acima dos 65 anos. Abaixo dos 45 anos é precoce e tem mais chances de ocorrer por fatores genéticos. O diagnóstico é feito por exames clínicos e em 40% das vezes, o tremor pode não estar presente. A lentidão dos movimentos e a rigidez são os sintomas mais evidentes. Não há formas de prevenir, mas é importante investir em atividades físicas mais intensas, alimentação saudável e controle do diabetes”, explica o médico neurologista Carlos Roberto de Mello Rieder, presidente da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Metalúrgico e músico, André Gubolin, começou a perceber os primeiros sintomas em novembro de 2017. No primeiro semestre de 2018, ainda sem um diagnóstico, iniciou a reabilitação, passou a tomar remédios e a fazer exames para identificar a doença que o fazia sentir dores, perder força muscular e emagrecer.

“Perdi o emprego, tive de vender minha bateria, que levei anos para montar, para conseguir pagar exames e sobreviver. Após perceber um pequeno tremor em um dedo da mão, o ortopedista me encaminhou para um neurologista em Lins. Após um exame clínico de quase duas horas, veio o diagnóstico de Parkinson precoce. Teria de me aposentar, não ia mais poder tocar bateira e, segundo o médico, seria dali pra pior”, conta Gubolin.

Entre junho e dezembro de 2018, ele entrou em depressão, se separou e teve de cuidar, com a ajuda da família, das duas filhas pequenas. “Em 2019 resolvi pesquisar sobre o Parkinson e mudar, dar um passo à frente e fazer a vida melhorar. A doença não tem cura, mas existem tratamentos que melhoram os sintomas”, conta. André começou a pesquisar grupos de apoio. E em um desses grupos, ele conheceu Vanessa Gomes, de Uberaba.

Baterista há 25 anos, ele e Vanessa resolveram iniciar um projeto para ajudar pessoas com Parkinson precoce, para falar sobre como viver bem com a doença. Em 2019, montaram o ‘Batera Superação Parkinson’. “Após um ensaio com amigos de Penápolis, eu consegui tocar bateria, pegar as baquetas. Percebi que enquanto eu tocava, os tremores sumiam. E vi que a bateria seria meu maior aliado nessa luta”, conta.

Um aliado na batalha diária

Há dez anos, Mauri Pavarini Soares de Mello, de 76 anos, recebeu o diagnóstico de Parkinson. Antes de contrair Covid, há um ano, a doença se manifestava somente com tremor, que foi o primeiro sintoma que apareceu há dez anos, nos dedos da mão direita. Após a Covid, dez quilos mais magro e com menos massa magra, Mauri apresentou lentidão, fraqueza nas pernas e perda de equilíbrio.

“Procuramos o atendimento da nutricionista e da fonoaudióloga. Hoje ele faz pilates, hidroterapia, musculação, massagem terapêutica, fisioterapia e psicologia e aulas de bateria”, conta Ana Romera, esposa de Mauri.

Ele também participa do Instituto Batera Parkinson. “Recebemos todo o conhecimento necessário para tomada de decisões nos mais diversos aspectos, através das lives com renomados neurologistas, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais, com grande conhecimento da doença de Parkinson. Também somos atendidos individualmente no grupo, pelos idealizadores do Instituto, André Gubolin e Vanessa Gomes”, conta Ana.

Segundo ela, o Instituto Batera Parkinson representa todos os doentes e suas famílias a certeza de não estarem sozinhos, como se sentiam antes. “Só gratidão pelo incansável trabalho realizado por ele. E incentivados por eles, também coloco à disposição aulas de Xadrez para doentes de Parkinson e alunos carentes”, afirma. (MMM)

Musicoterapia é aliada

O Instituto Batera Parkinson leva musicoterapia a pacientes e crianças carentes, por meio de aulas online e presencial. “Durante a pandemia fizemos lives e pessoas do Brasil todo nos procuram para receber informações. Temos mais de 50 mil seguidores no Brasil todo. Hoje damos palestras de motivação e superação, além de workshop de bateria”, explica André Gubolin.

O músico conta que logo início da doença tomava 28 medicamentos por dia. Hoje são 7. “E deixei a muleta pra trás. Melhorei como ser humano depois do diagnóstico. A doença não regrediu, mas estacionou.”

De acordo o médico neurologista Fábio Henrique Limonte, uma boa qualidade de vida com a doença começa com o tratamento correto para melhora motora, mas vai muito além. “É importante diagnosticar e tratar também os sintomas não-motores, como os distúrbios de sono e depressão. E manter hábitos de vida saudáveis como aulas de danças (movimentos não automáticos são menos prejudicados e dançando o paciente trabalha o equilíbrio), exercício físico regular e ter um convívio social para evitar a síndrome do isolamento.” (MMM)

Saiba mais

  • Procure um médico tão logo perceba um ligeiro tremor nas mãos ou tenha notado que sua letra diminuiu de tamanho (micrografia);
  • Mantenha a atividade intelectual; leia, acompanhe o noticiário;
  • Não atribua ao passar dos anos a perda da expressão facial e o piscar dos olhos menos frequentes;
  • Pratique atividade física. Fazer exercícios físicos regularmente ajuda a preservar a qualidade dos movimentos.
  • Tenha uma boa noite de sono;
  • Tenha bons hábitos alimentares;
  • Tenha momentos de atividade lúdicas (seja um curso de dança, um curso de idiomas, um curso de instrumentos musicais), atividades que vão trabalhar novas habilidades e ao mesmo tempo proporcionar diversão e interação social.

Fonte: ABN e Fábio Henrique Limonte, neurologista

Mauri Pavarini Soares de Mello, 76 anos, durante atividade do Instituto Batera Parkinson com o voluntário Ricardo Villasboas (Divulgação)

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