O CEO da resseguradora IRB (IRBR3), Raphael de Carvalho, afirmou nesta terça-feira (17) que os resultados da companhia no 1º trimestre refletiram um “período especialmente desafiador por conta dos efeitos climáticos que afetaram o desempenho rural e pela (nova onda da) Covid-19, que afetou o segmento de vida”.
As declarações ocorreram durante teleconferência de resultados para comentar o balanço de janeiro a março, quando o IRB registrou lucro 58,4% maior na comparação anual. Os resultados foram beneficiados por efeito não-recorrente, referentes a dois ganhos de ação judiciais, em janeiro e março.
Após o balanço, as ações do IRB chegaram a subir 3% na abertura dos negócios, mas viraram para queda e fecharam com desvalorização de 7,89%, a R$ 2,45, com balanço avaliado como negativo por analistas, por conta dos fracos resultados operacionais recorrentes.
O vice-presidente técnico e de operações da IRB (IRBR3), Wilson Toneto, destacou, dentro da dinâmica do seguro rural, que foi registrada a pior seca nos últimos 90 anos do Paraná e a pior seca dos últimos 70 anos no Rio Grande do Sul. como exemplos itens que impactaram o segmento da companhia.
No entanto, segundo Toneto, os riscos estão distribuídos em todo o território nacional e também fora dele, com a diversidade geográfica do IRB. Segundo o vice-presidente, a companhia tem proteção para essa carteira de negócios.
“Neste trimestre, a companhia possui reservas robustas que, no nosso entendimento, são mais que suficientes para fazer frente aos prejuízos estimados na carteira”, afirmou.
O Brasil representa 62% dos prêmios da companhia, fatia 8 p.p. maior do que no mesmo período do ano anterior. Já o índice de renovação dos contratos ficou em 86%.
Covid
Em relação aos efeitos da Covid-19, Toneto afirmou que a pandemia foi um grande ponto de destaque em quase todas as resseguradoras mundiais no 1T22 e “seus efeitos seguem na indústria e no IRB não é diferente”.
Nos dois anos de pandemia (de março de 2020 a março de 2022), o IRB registrou R$ 232 milhões de impacto nos resultados (em sinistros retidos), especialmente na carteira de vidas.
Desde 2021 a empresa passou a conceder cobertura para a pandemia. E essas coberturas trarão receitas adicionais ao IRB nos próximos trimestres, acrescentou.
Negócios locais
O CEO do IRB, Raphael de Carvalho, afirmou ainda a investidores que a empresa quer explorar mais os negócios no Brasil, onde a empresa afirma que enxerga maiores vantagens competitivas.
Para isso, a administração vai dar “total atenção a despesas administrativas” (com expectativa de que as despesas variem abaixo da inflação, ajudando o IRB a ganhar escala), além da oportunidade de melhorar contratos de novos negócios e ajustes de condições e preços de acordo com o risco, que continuarão como norte na política de crescer com rentabilidade.
Com o crescimento de juros no país e da operação de IRB, a empresa espera que isso traga efeitos positivos nos próximos trimestres.
O CEO citou ainda que a companhia contratou assessores financeiros para ajudar o IRB a “avaliar opções de otimização do capital, um compromisso da administração” para continuar a todas as oportunidades do mercado.
IRB: analistas apontam resultado negativo
Em relatório, o Citi destacou que o lucro foi beneficiado por eventos pontuais relacionados a processos judiciais, no valor de R$ 150 milhões, mas que, pelo lado operacional, os números continuam no vermelho.
O Citi reforçou que os resultados de subscrição (depois de SG&A e impostos) atingiram uma perda de R$ 214 milhões – uma melhora em relação aos trimestres anteriores, mas ainda assim negativa. A sinistralidade atingiu 80% no trimestre, impactada negativamente pelo segmento rural.
“Apesar de vir melhor do que nossa previsão (CitiE 90%), observamos que a sinistralidade sustentável do IRB ainda será determinada quando a carteira estiver totalmente liberada das operações descontinuadas”, escreveu o Citi.
“Se os níveis atuais se mostrarem resilientes, veríamos ainda mais desvantagens em nossos números – já que nosso modelo implica um índice de perda de longo prazo de 67%”, acrescentou.
Por fim, o Citi pontua que o lucro, favorecido por eventos extraordinários, não deve melhorar o sentimento dos investidores em relação à sua recuperação.
“Os números operacionais da empresa continuam apontando para uma lucratividade fraca, e isso deve se arrastar por alguns trimestres ainda”, concluiu, indicando recomendação de Venda, com preço-alvo de R$ 3.
Subscrição fraca
Assim como o Citi, o Credit Suisse apontou que o IRB registrou resultados trimestrais fracos, reforçando o viés negativo para os papéis.
O Credit destacou que, apesar do lucro, houve prejuízo nos resultados recorrentes (-R$ 54 milhões versus -R$ 26 milhões estimados pelo CS), juntamente com queima de caixa operacional de -R$ 288 milhões, resultando em mais um trimestre de redução de suficiência de capital, agora em 105 % vs. 106% no 4T21.
“Os resultados mostraram novamente resultados negativos de subscrição de -R$96 milhões, sendo -R$113 milhões no Brasil, refletindo uma queda de 23p.p. pela deterioração da sinistralidade para 91%, além de maiores reclamações relacionadas a perdas na safra de soja na região sul e centro-sul do estado de Mato Grosso do Sul”, acrescentou.
Ademais, o Credit reforçou que os acionistas do IRB aprovaram na última AGE (10 de maio) alterações relevantes no estatuto, permitindo até R$ 1,2 bilhão em aumento de capital, “sugerindo um potencial follow-on, emissão de bônus conversíveis ou subscrição de bônus”, por conta de uma suficiência mais apertada.
A recomendação do Credit é underperform (desempenho abaixo da média do mercado), com preço-alvo de R$ 3,35.
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