Uma nova espécie de macaco avistada na ilha de Borneo, no Sudeste Asiático, está deixando os cientistas preocupados. Aparentemente, trata-se de um novo híbrido fruto do cruzamento entre um macaco-narigudo (Nasalis larvatus) e um langur prateado (Trachypithecus cristatus), duas espécies diferentes que compartilham o mesmo habitat.
Longe de ser motivo de comemoração, a ocorrência de cruzamento entre espécies distintas na região é indício de que o ecossistema de Bornéu está sob pressão, e o principal culpado é a ação humana. Isso porque esses macacos raramente cruzam. Segundo a Newsweek, esta é a primeira vez que um híbrido entre as duas espécies é registrado. É também a segunda vez na história que os cientistas observam um híbrido entre duas espécies distintas de primatas na natureza.
O espécime híbrido foi avistado pela primeira vez em 2017 em meio à floresta frondosa perto do rio Kinabatangan. Era uma jovem fêmea considerada um “macaco misterioso” dado o visual exótico, até então, não descrito pelos cientistas. Imagens mais recentes, feitas em 2020, revelam que o animal cresceu e ganhou um filhote. Os pesquisadores notaram que o macaco estava vivendo em uma área onde macacos-narigudos e langures prateados compartilhavam o espaço.
Os dois tipos de macacos são parentes distantes, mas diferem marcadamente tanto nos traços quanto no tamanho. Os macacos-narigudos possuem grandes narizes e rostos rosados e crescem até até 76 cm, pesando em média 20 a 24 kg. Menos conhecido, o langur prateado possui um nariz bem menor e o rosto preto, atingindo até 56 cm e 6,6 kg.
Macaco langur prateado (Trachypithecus cristatus) e macaco-narigudo (Nasalis larvatus). — Foto: WikimediaCommons
Ambas as espécies vivem em “famílias” com um macho e várias fêmeas. Com um território cada vez mais vulnerável e pressionado pelo avanço dos humanos, os macacos possivelmente estão passando a competir pelo espaço menor e por companheiras para formar novas famílias.
Segundo os pesquisadores que analisaram o “macaco misterioso” de Bornéo, com cada vez menos território para se ramificar, os macacos-narigudos parecem estar acasalando com as fêmeas do langur prateado. O macaco híbrido tem características físicas de ambas as espécies – conforme descrito em estudo publicado no periódico científico International Journal of Primatology.
“Ver este suposto híbrido é um sintoma alarmante de um ecossistema que parece desequilibrado”, disse a coautora do estudo Nadine Ruppert, primatologista da Universidade de Ciências da Malásia. A cientista também se impressionou ao ver que a fêmea híbrida estava com um macaco bebê. Isso porque a maioria dos híbridos nascidos de diferentes espécies são estéreis e incapazes de produzir descendentes.
“Ela parecia estar amamentando um bebê”, disse Ruppert à Live Science . “Ficamos todos maravilhados. Foi bastante surreal.” Embora seja possível que ela estivesse cuidando do bebê de outra fêmea, a cientista destaca que ela parecia ter seios inchados, sugerindo que estava em processo de aleitamento.
Apesar da raridade das circunstâncias, a pesquisadora reforça o caráter alarmante desse achado. “É trágico que ambas as espécies agora se acumulem nas áreas estreitas remanescentes de mata ciliar cercadas por plantações de dendezeiros , onde competem por comida e oportunidades de acasalamento”, disse. “Espero que as pessoas comecem a falar sobre ela, não como uma atração, mas como um animal ‘carro-chefe’ da área que precisa ser protegida, e com ela, suas duas espécies-mãe e seu habitat”.