Amostras da Lua que foram trazidas pela missão Apollo 17, em 1972, e que ficaram congeladas por quase 50 anos começaram a ser analisadas pelo Goddard Space Flight Center, da NASA. O desafio técnico para manipular este precioso material e as descobertas a partir dele ajudarão na análise de amostras do polo sul lunar que serão trazidas através das missões Artemis.
A pesquisa pertence ao Programa de Análise de Amostras de Próxima Geração da Apollo (ANGSA), da NASA, dedicado a estudar o material trazido pela Apollo 17 antes que as missões Artemis decolem para a Lua. As amostras estavam em um freezer no Johnson Space Center e recentemente chegaram ao Goddard.
No entanto, a operação não foi nada fácil e precisou da ajuda de pesquisadores do Centro de Pesquisa Ames, do Laboratório de Pesquisa Naval em Washington e da Universidade do Arizona. Há mais de quatro anos Julie Mitchel, pesquisadora da Nasa, e sua equipe desenvolvem a melhor abordagem para analisar as amostras.
Mitchel explicou que o trabalho teve início em 2018 e que muitos desafios técnicos precisaram ser superados para chegar a uma nova abordagem que permite analisar as amostras ainda congeladas. “Isso foi visto como uma prática para preparar uma instalação para o futuro processamento de amostras frias”, acrescentou.
Quando a instalação já estava pronta, o curador de amostras da Apollo, Ryan Zeigler, da Divisão de Pesquisa e Exploração de Astromateriais (ARES) do Johnson, e sua equipe precisaram se adaptar às condições estabelecidas pela equipe de Mitchel — manter as amostras congeladas durante a análise.
Além da diminuição da visibilidade por conta congelamento, a equipe precisou manipular as amostras com luvas grossas em um porta-luvas com nitrogênio. E todo esse trabalho foi realizado no interior de uma sala freezer, com temperatura de 20 °C negativos.
Para Zeigler, trabalhar neste frio só tornou o processo ainda mais difícil. “É uma importante lição de aprendizado para a Artemis”, apontou.
O que dizem as amostras lunares?
Após o processamento, as amostras foram subdividas pelo processador de amostras lunares Jeremy Kent, do Johnson, e então armazenadas em um recipiente com gelo seco. Em seguida, elas foram para o Goddard, onde foram guardadas em um freezer.
Para os pesquisadores envolvidos na análise, é muito especial receber amostras que não são estudadas há quase cinco décadas. A pesquisadora do Laboratório Analítico de Astrobiologia do Goddard, Jamie Elsila, concentra seu trabalho nos pequenos compostos orgânicos voláteis.
Trabalhos anteriores descobriram que algumas amostras da Lua continham aminoácidos, os blocos essenciais da vida na Terra. Elsila e sua equipe investigam a origem e distribuição desses compostos por todo o Sistema Solar. Ao identificá-los e quantificá-los, eles esperam entender parte da química prebiótica da Lua.
Enquanto isso, a pesquisadora Natalie Curran, do Mid Atlantic Noble Gas Research Lab do Goddard, dedica-se a compreender o histórico dessas amostras. Diferente da superfície terrestre, a lunar não está protegida dos raios cósmicos por uma espessa atmosfera.
Curran explicou que o trabalho permite usar gases nobres como o argônio, hélio, neônio e xenônio para medir por quanto tempo as amostras estiveram expostas à radiação cósmica, prejudicial aos compostos orgânicos. “Portanto, entender a duração ajuda a determinar os efeitos que a exposição teve no composto orgânico”, ponderou.
Além das amostras congeladas, as duas pesquisadoras têm acesso a amostras não congeladas. Assim, elas poderão comparar os dois grupos para ver se há alguma diferença no conteúdo orgânico. Qualquer variação ajudará a aperfeiçoar as técnicas que abordarão o material lunar que retornará com as missões Artemis.
Fonte: NASA