Um paciente com quadro clínico grave está internado há 20 dias na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Morada do Ouro aguardando a transferência para o Hospital Geral de Cuiabá.
A servidora pública Suely Oliveira relatou ao MidiaNews que seu primo, que pediu para não se identificar, deu entrada na UPA no dia 20 de abril com falta de ar e suspeita de infarto. Na unidade ele foi submetido aos exames de emergência que identificaram uma estenose aórtica grave.
Ou seja, o paciente estava com duas artérias obstruídas, sendo uma delas 90% fechada e a outra 70%. Devido ao quadro delicado, ele deveria ser submetido a um cateterismo o mais rápido possível, mas não foi o que ocorreu.
Segundo Suely, o primo só passou pelo procedimento no dia 4 de maio, 15 dias após dar entrada na UPA. O cateterismo só ocorreu após a morte de outras duas pessoas que aguardavam na fila da unidade.
Após o procedimento, o paciente ainda precisou ficar internado, pois foi constatado que ele precisa fazer uma angioplastia, que é o tratamento não cirúrgico das obstruções das artérias coronárias por meio de cateter balão.
O procedimento, que deveria ser realizado logo na sequência do cateterismo pelo risco de infarto fulminante, ainda não foi realizado. Segundo a unidade, falta vaga para transferi-lo para o Hospital Geral de Cuiabá, que é filantrópico e atende pelo SUS.
“Se ele não fosse um paciente de risco, eles teriam dado alta para esperar quando tivesse vaga, mas não, eles o mantiveram internado aguardando essa vaga”, afirma Suely.
“Só que UPA não é lugar de paciente ficar internado. Ali é um local de emergência, ele pode ser exposto a diversas doenças de pacientes que chegam para serem atendidos”, acrescenta.
Sendo um paciente que já sofreu infarto anteriormente, a família se preocupa com a demora no atendimento pelo risco que ele corre estando com as artérias obstruídas e sem previsão para realizar a angioplastia.
Além disso, os parentes precisam desembolsar R$ 100 por dia para que um cuidador possa permanecer ao lado do paciente nos momentos em que a esposa não pode acompanhá-lo.
No entanto, devido à demora no atendimento, não sabem mais quanto tempo vão conseguir manter o gasto.
Denúncia Sindimed
No dia 28 de abril o presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso (Sindimed), Adeildo Lucena, fez uma série de denúncias sobre a Saúde Pública de Cuiabá.
Dentre os relatos de situações de descaso, assédio e problemas nos prontos socorros e UPAs da Capital, o presidente mencionou a falta de leitos para receber pacientes das unidades de pronto atendimento.
Adeildo afirma que os médicos estão de mãos atadas, pois não existem leitos de retaguarda para receber os pacientes, por isso, muitos precisam ficar aguardando nas UPAs. Procedimento que não é correto, já que o período para permanecer nas unidades é de, no máximo, 24 horas.
“Não tem para onde mandar, falam que tem leito sobrando, mas não tem para onde mandar. Então, se não tem para onde mandar o paciente, onde ele vai ficar? Vai mandar para casa? Não, tem que ficar lá”, explicou o presidente.
Ele ainda disse que este problema é recorrente em Cuiabá e acontece desde antes da pandemia. Era esperado que a situação mudasse após as internações por Covid-19 e abertura de novos leitos, mas a correção não ocorreu.