Por que no frio sai fumaça pela boca e como reconhecer e evitar hipotermia – VivaBem

Quem nunca, quando criança, brincou de soprar ‘fumaça’ pela boca? Pelo menos quem cresceu sob frio intenso ou o experimentou algumas vezes, sobretudo no inverno. Uns fantasiavam estar no Polo Norte, outros serem os personagens do naufrágio do Titanic.

Porém, quando passada essa fase, restam as dúvidas e sobre a fumacinha em questão, VivaBem, com o apoio de especialistas, esclarece como sua física ocorre e o que representa.

Para começar, ninguém libera fumaça como de escapamento, cigarro, porque não há queima de nada. “O que o corpo humano expira pela boca é ar com vapor d’água. Nos dias quentes, também exalamos, mas não vemos”, esclarece Paulo Sérgio Campos Salles, médico pela Unitau (Universidade de Taubaté) e pneumologista do Hospital Igesp, em São Paulo.

O fenômeno, para ser visível, requer que a temperatura externa esteja muito gelada. Ao sair de nós, o ar úmido e aquecido ao nível da temperatura corporal, em média 37°C, rapidamente se resfria e as minúsculas gotículas d’água presentes nele se aglomeram, formando outras, maiores, e que suspensas e na luz tornam-se visíveis como fumaça esbranquiçada ou cinzenta.

A transição do estado gasoso para o líquido é a condensação. Efeito também da neblina, dos copos e garrafas geladas que “transpiram”, ou das janelas que embaçam em um carro fechado.

É motivo de preocupação?

Frio em São Joaquim (SC)

Imagem: Reprodução/Instagram/Prefeitura de São Joaquim (SC)

Soltar vapor pela boca é natural, mas um sinal para se tomar cuidado com o frio intenso, que afeta a termorregulação e desequilibra as funções do organismo. Por isso, não é bom aumento das frequências cardíaca e respiratória, tremores involuntários, bater de dentes e arrepios.

Se a exposição for breve, os sintomas são fáceis de se contornar e sem maiores prejuízos.

No entanto, quando prolongada e a pessoa estiver desagasalhada, malnutrida, molhada e recebendo muito vento, as consequências podem ser graves e até letais. Temperatura corpórea abaixo de 35ºC pode cursar com perda da sensibilidade tátil, alterações de raciocínio, fala e movimentos, e pressão sanguínea aumentada sobre a parede de vasos e artérias.

“O coração fica sobrecarregado e eventuais placas de gordura podem se soltar e, uma vez na corrente sanguínea, interromper seu fluxo e ocasionar infarto e acidente vascular cerebral”, explica Rodrigo Cantarelli, cardiologista do Hospital Memorial São José, no Recife.

Cantarelli acrescenta que no clima frio há um aumento de incidência em torno de 30% para ataque cardíaco, principalmente em pacientes com doença coronariana prévia.

Não bastasse, como no frio há diminuição da sede, a ingestão de líquidos acaba insuficiente, contribuindo para desidratação e risco de problemas circulatórios, pois o sangue coagula mais facilmente, fica espesso e seu fluxo desacelerado.

Quando se dissipa mais calor do que produz

Imagem: Getty Images

É caracterizada como hipotermia a condição que pode levar a tudo isso em poucas horas, minutos ou segundos, a depender de quanto seja a diminuição da temperatura corporal. Lembra de Jack (Leonardo DiCaprio) esperando pelo regaste nas águas congelantes do Atlântico Norte? Sua queda de temperatura foi tão rápida que ficou sonolento, perdeu a consciência, seus sinais vitais diminuíram e ele sucumbiu por parada cardiorrespiratória.

Nessa situação, os pulmões —e o ar que sai deles— resistem em se manter aquecidos, porque o organismo se esforça para sobreviver e aciona um processo de vasoconstrição, para que o sangue da pele e das extremidades seja redirecionado para a manutenção dos órgãos internos.

“No frio são liberadas catecolaminas [substâncias anti perda de calor] e que agem contraindo, ou estreitando o calibre dos vasos sanguíneos”, informa Cantarelli.

O problema é que esse mecanismo de defesa não só oferece riscos para a saúde como pode não ser suficiente. E se ofegante, a respiração contribui ainda mais para se perder água e calor e à medida que o ar seco e frio entra, mais o quadro se agrava.

Por isso, numa situação de hipotermia, respire pelo nariz e não pela boca, pois são as narinas que filtram e aquecem o ar.

No frio: prevenção, calor e água

Imagem: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Inspirar e expirar pela boca também é ruim porque o ar, no inverno, além de frio e seco, é repleto de poluentes e agentes nocivos que irritam as vias áreas, acarretam sintomas alérgicos e facilitam infecções e inflamações, que nos vasos sanguíneos também podem fazer com que as já mencionadas placas de gordura localizadas nas artérias se desprendam e causem lesões.

Por isso, se cuide e evite se expor a baixas temperaturas. Ao sair, agasalhe-se bem, proteja as extremidades do corpo (mãos, pés, cabeça), evite alimentos ricos em sódio e gordurosos (ainda mais com problemas vasculares, comorbidades ou sendo fumante, sedentário e obeso), vacine-se, não fique com roupas molhadas ou suadas no corpo, capriche no consumo de água, bebidas quentes e sopas e agende uma consulta médica antes de pegar puxado nos exercícios.

Devido a alterações naturais da idade, que reduzem a eficácia do processo de termorregulação, idosos devem ser monitorados, assim como os bebês, que não têm como se queixar do frio.

“Diferente dos adultos, crianças também possuem vias aéreas de pequeno calibre e mais dificuldade em eliminar secreções, o que pode levar a um aumento do trabalho respiratório, baixa oxigenação e internações hospitalares”, explica Aline Lacerda, fisioterapeuta cardiorrespiratória pelos Hospitais da Criança e Nossa Senhora de Lourdes (SP).

Já em uma situação de hipotermia, para casos leves, o indicado é se aquecer com o que puder e se proteger de correntes de vento, chuva e áreas descobertas. Se a pessoa não conseguir falar, se mexer ou desmaiar, busque ajuda médica pelo 192 (Samu) e mantenha seu corpo deitado de lado e próximo de uma fonte de calor, mas não muito, para evitar choque térmico.

Uma forma de evitar que fatalidades aconteçam nas noites geladas de inverno, abaixo de 13ºC, é acionar pelo 156 os serviços de atendimento socioassistencial, para que ofereçam às pessoas em situação de rua e risco acolhimento e encaminhamento para locais protegidos, além de doar roupas, cobertores e alimentos e participar de campanhas de arrecadação.

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