Home Saúde e Bem Estar Varíola dos macacos: veja o que se sabe sobre a transmissão – Globo

Varíola dos macacos: veja o que se sabe sobre a transmissão – Globo

by Infonew

As dezenas de casos registrados da varíola dos macacos na Europa, na América do Norte e na Austrália nos últimos dias têm gerado alerta entre cientistas e agências de saúde. Até agora, são ao menos 100 casos relatados fora da África, em 11 países.

No continente africano, já são mais de 1,2 mil casos suspeitos na República Democrática do Congo. Ainda não há relatos de casos no Brasil.

Os especialistas ainda não sabem, exatamente, como a doença está sendo transmitida. Geralmente, a varíola dos macacos passa de animais para humanos – pois é uma zoonose –, e, com menos frequência, de uma pessoa para outra. Surtos já ocorreram no passado – o mais recente deles em 2021, nos Estados Unidos.

“Essas [varíolas] menores – a varíola menor, a varíola do macaco, a varíola da vaca – a transmissão tem mais a ver com contato de pele. É essa proximidade dos animais que faz com que surja a varíola da vaca, do macaco, por isso que a transmissão inter-humanos é muito rara”, explica Renato Kfouri, pediatra infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.

“Por isso que nunca se espalhou. Uma varíola dessa fica contida em regiões da África e onde tem essa proximidade da selva, dos animais”, completa Kfouri (veja vídeo acima). “É descrito, já, a transmissão respiratória, pele com pele, mas não de uma vez, em vários países do mundo. Isso é uma novidade”, diz.

Além do contato com a pessoa infectada – pela pele, com as lesões ou fluidos corporais da pessoa doente, incluindo gotículas e secreções respiratórias –, a varíola dos macacos também é transmitida por material contaminado, como roupa de cama.

Como alguns dos casos estão ocorrendo em homens que fazem sexo com homens (HSH), a via sexual de transmissão também está sendo investigada pelas autoridades de saúde mundiais.

“Existe, provavelmente, alguma forma de contato mais íntimo favorecendo a transmissão. Mas não se conhece ainda o mecanismo de transmissão desse vírus em especial”, afirma Kfouri. Mas ele alerta que não pode haver estigmatização desse grupo, como houve no surgimento do HIV.

“Nós estigmatizamos muito na questão do HIV o comportamento sexual, como se fosse a única forma de transmissão – e certamente, dessa vez, também não o é”, destaca.

A epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), publicou observações semelhantes na rede social Twitter:

“Se você é um homem que faz sexo com outro homem e tem uma relação estável (parceiro fixo), a chance de ter infecção sexualmente transmissível é ~0%. Assim como se você é um homem que faz sexo com mulher. Ou mulher que faz sexo com mulheres”, lembrou.

“Se você tem múltiplos parceiros, e ao ter relação sexual não usa preservativos e tem um comportamento de risco, sua chance aumenta bastante. As combinações são infinitas. Portanto, não é sua orientação sexual que transmite doença, é a forma que você escolheu para viver sua sexualidade”, completou Maciel.

Segundo a própria Organização Mundial de Saúde (OMS), a varíola dos macacos é uma doença que ocorre principalmente em áreas de floresta tropical da África Central e Ocidental, sendo apenas ocasionalmente exportada para outras regiões.

Em 2003, o primeiro surto de varíola dos macacos fora da África ocorreu nos Estados Unidos – relacionado ao contato com cães de pradaria de estimação infectados. Os cães foram alojados com ratos e arganazes vindos da Gâmbia – que haviam sido importados para os EUA de outro país africano, Gana. O surto levou a mais de 70 casos de varíola dos macacos nos EUA.

Casos também foram relatados em viajantes que saíram da Nigéria para Israel (setembro de 2018) e Reino Unido (setembro de 2018, dezembro de 2019, maio de 2021 e maio de 2022), Singapura (maio de 2019) e para os EUA em julho e novembro de 2021.

Desde 2017, a Nigéria vem passando por um grande surto, com mais de 500 casos suspeitos e mais de 200 casos confirmados e uma taxa de mortalidade de aproximadamente 3%. Os casos continuam a ser relatados até hoje.

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